quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

ARQUIVO CLÍNICO

Do Meu Arquivo Clínico ...

 

Em janeiro de 1923, vim a Itaúna passar alguns dias e repousar das fadigas do fim do ano de minha formatura , ocorrida no final de dezembro de 1922 .  Na manhã de 19 daquele mês , fui levado ao hospital para conhecê-lo e ao Dr. Dorinato, cuja fama corria por toda parte.

Dr. Dorinato  Lima logo me indagou com quem eu trabalhara no Rio de Janeiro. respondi-lhe que fora interno do Serviço de Ginecologia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, na Maternidade das Laranjeiras , sob a chefia do professor Modesto Brandão atuando como assistente José Mauriti dos Santos, naquele tempo um dos mais completos e acatados cirurgiões , que desapareceu ainda moço, deixando , porém um nome aureolado.

Estava Dr. Dorinato Lima com uma doente da especialidade para operar e solicitou-me a examinasse. Assim o fiz e, de pronto, dei-lhe o diagnóstico :  Prenhez Tubária. Embora se tratasse de um diagnóstico difícil, para mim se tornou fácil porque era esse assunto de tese que iria defender e que já estava muito  adiantada.

A intervenção então realizada e a que prestei auxílio como assistente, conferiu-me conceito perante ao Dr. Dorinato Lima e seus auxiliares.  Todas as manhãs , estava eu cedinho no Hospital, colaborando com os colegas que contribuíram para engrandecer o nome do Dr. Dorinato Lima e tornar cada vez mais significativa a afluência ao Velho Hospital.

Possuo um vasto arquivo onde se acham registradas as intervenções praticadas no Hospital de Itaúna , desde os primeiros tempos até a época em que assumi a chefia dos serviços cirúrgicos, com a transferência do Dr. Dorinato para Belo Horizonte, cabendo-me continuar à frente dos mesmos até aparecerem os elementos novos que hoje  integram o corpo clínico do mesmo Hospital, já agora nas suas novas e confortáveis instalações. 

Fomos, portanto, os vanguardeiros , lutando, naquele tempo, com a falta de recursos, para tornar realidade o que Itaúna pode agora apresentar e que constitui magnífico patrimônio , graças à benemerência de Manuel Gonçalves de Sousa Moreira, cujo nome se alteia e enflora o frontispício da magnífica instituição.

Tudo isso que escrevi, veio-me à mente para por em realce, perante as novas gerações, essa obra grandiosa da qual fui operário humilde, mas devotado. Vêm-me à lembrança as recordações dos momentos felizes, como também das aperturas que passamos, os dramas a que assistimos, tudo o que aconteceu no seu viver quotidiano.

Mas, ao lado de tudo isso, horas alegres também vivemos ali, quando se registrava um fato auspicioso , na luta contra os grandes males, conseguindo, por vezes sem conta, a recuperação de vidas, condenadas a esvair-se , caso não se lançasse mão dos recursos embora escassos  que bastavam, todavia, para conferir triunfos, salvando-se as vidas daqueles que procuravam a nossa cidade, em busca de lenitivo para os seus sofrimentos. 
 

Fonte : Livro Itaúna Humana & Pitoresca  /  Página : 89 - 90  /  Ano: 1961

Acervo fotográfico: Prof. Marco Elísio Chaves Coutinho



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